S. Paulo – A Comissão de 65 deputados que, na noite desta segunda-feira (11/04), decidiu pela admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma Rousseff, por 38 votos a 27, assim como o plenário do Congresso que se reunirá de sexta a domingo para votar o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB/GO) autorizando a abertura de processo contra a Presidente, são um retrato da ausência da população negra nos espaços de poder.
Entre os 65 membros da Comissão apenas três se autodeclaram negros – Benedita da Silva, do PT carioca, Orlando Silva (foto 1) e Vicente Cândido (foto 2), respectivamente, do PCdoB e do PT de S. Paulo. Os três, em obediência aos respectivos comandos partidários, votaram contra o impeachment e endossaram a campanha “não vai ter golpe”, lançada pelos partidos da base de apoio ao Governo Dilma.
Com exceção de Orlando Silva que encaminhou a votação contrária ao impeachment em nome do seu partido, Benedita e Cândido tiveram atuação discretíssima nos debates.
Invisíveis
O mapa da presença negra no Parlamento brasileiro demonstra como, apesar de representarem 50,7% da população, os negros são invisíveis nos espaços de decisão e poder. Quem viu pela TV e acompanhou a transmissão direta das sessões pela Globo News, ficou com a nítida impressão de que a presença negra no país é insignificante e como esse grupo que é a maioria da população, está ausente dos espaços de poder.
O quadro, por outro lado, é a o retrato do resultado das últimas eleições vencidas por Dilma para Presidente, em 2014, quando dos 1.627 candidatos eleitos, 1.229 se declaram brancos (76%), os pardos representaram 342 dos eleitos, os pretos 51 (menos de 3%), os amarelos de origem oriental três, e os indígenas dois, de acordo com dados de levantamento feito pela Revista Congresso em Foco com base nas informações prestadas pelos eleitos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O quadro de votações sobre o processo de impeachment expõe outra contradição: embora com mais de 50 milhões de eleitores (o Brasil é o país com maior população negra fora da África) tenham sido a maioria que decidiu a eleição de Dilma, não terão expressão no Parlamento para decidir se ela sai ou continua no cargo.
Veja o quadro da presença negra entre os eleitos em 2014.
Como os 1.627 candidatos eleitos em 2014 se declararam à Justiça eleitoral e a desproporção entre o resultado das urnas e a representação racial da sociedade. Fonte: Revista Congresso em Foco.
Eleições 2014 | Brancos | Pardos | Pretos | Amarelos | Indígenas |
Presidente da República | 1 | – | – | – | – |
Governadores | 20 | 6 | – | 1 | – |
Senadores | 22 | 5 | – | – | – |
Deputados federais | 410 | 81 | 22 | – | – |
Deputados estaduais | 776 | 250 | 29 | 2 | 2 |
Eleitos | 1229 | 342 | 51 | 3 | 2 |
Como se classificam | % da população | % de eleitos | |||
Brancos | 47,7 | 75,6 | |||
Pardos | 43 | 21 | |||
Pretos | 7,6 | 3,1 | |||
Amarelos | 1,1 | 0,2 | |||
Indígenas | 0,4 | 0,1 |
Da Redacao