Cachoeira/BA – As matas da Roça do Ventura – o Zogbodo Male Bogun Seja Unde, primeiro Terreiro da Nação Jeje-Mahi no Brasil – situado na cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano (a 110 Km de Salvador) foram alvo de mais um incêndio – o quarto nos últimos anos -, provavelmente de origem criminosa. O Terreiro já tem tombamento provisório como patrimônio cultural pelo IPHAN.
O Jornal A Tarde, de Salvador, relata que o fogo começou por volta das 10h30 de quarta-feira (09/01) e consumiu cerca de 50 árvores e plantas sagradas do local.
De acordo com o ogã Anderson Marques, até a noite desta quinta-feira, o incêndio não tinha sido debelado e já havia consumido mais de 600 metros da vegetação, especialmente jaqueiras, sucupiras, umbaúba, mangueiras, licuri são-gonçalinho, coqueiros e cajueiros, além de plantas usadas nas obrigações religiosas e como ervas medicinais.
Segundo Marcus Alessandro Mawusí, ogã do terreiro e relações públicas da Associação religiosa, para evitar que o fogo chegasse à sede outras construções do sítio religioso, a comunidade usou folhas sagradas, pás, enxadas, garrafas plásticas e baldes com água, além de dois carros-pipa da Prefeitura.
O incêndio foi agravado porque há meses não chove na região e a vegetação seca facilitou a propagação das chamas, atingindo até a jaqueira consagrada à divindade ssansú.
A Polícia Militar foi acionada, mas não apareceu. O Corpo de Bombeiros só chegou às 18h30, após a intervenção do Ministério Público, mas os agentes disseram não ter condições de trabalhar no escuro. Em Cachoeira não há unidade da corporação.
De acordo com o secretário municipal de cultura, José Bernardes, um tanque foi carregado de água para molhar a vegetação não atingida, por precaução, “mas a mangueira do carro-pipa é curta e não atingia a área toda”. “Tivemos muitas dificuldades”, afirmou.
Suspeitas
Segundo o ogã Edvaldo de Jesus Conceição, o Buda, há muita gente na Roça, porque neste domingo, haverá a Festa do Boitá (procissão do Vodun), a maior comemoração religiosa do local.
Conceição informou que a comunidade fará registro de um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Cachoeira para que seja aberta investigação para apurar se o incêndio foi criminoso.
"Moradores viram dois adolescentes ateando fogo na vegetação. Daqui a quatro dias, receberemos convidados ilustres e representantes de vários templos. A intenção era atingir o Terreiro. Além disso, o julgamento sobre a invasão ocorrida na Roça será em 24 de abril", afirmou.
Foto: Jornal A Tarde/Salvador
Da Redacao