Belo Horizonte/MG – Estudantes de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) exibiram para todo o país como a cultura racista está presente na sociedade e faz parte do seu dia a dia, inclusive das brincadeiras com que se divertem expondo negros à humilhação e ecoando os piores sofrimentos do período da escravidão, abolida formalmente há 125 anos.
Durante o trote com que os veteranos recepcionam os calouros, os estudantes tiraram fotos com uma estudante pintada de negro acorrentada com a inscrição: “caloura Chica da Silva”. Em outra foto, maquiados com o bigodinho de Adolf Hitler, amarraram um calouro numa pilastra e fizeram saudações nazistas.
Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva, foi uma escrava, depois alforriada pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, com quem passou a viver em matrimônio oficial no Arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas, durante a segunda metade do século XVIII. Tiveram 13 filhos e viveram por 15 anos. O contratador registrou todos os filhos com o seu sobrenome, o que não era comum em se tratando de filhos bastardos.
A história da ex-escrava foi celebrizada no cinema com o filme "Chica da Silva", do diretor Cacá Diegues, tendo no papel principal a atriz Zezé Motta.
Os filhos de boas famílias da elite mineira, aprovados para um dos cursos mais concorridos de uma das maiores universidades federais do país, porém, parecem desconhecer a história e se dão ao direito de extravasar sua ignorância debochando dos sofrimentos dos negros no período da escravidão.
Nas redes sociais, muitos alunos da UFGM protestaram indignados. Os veteranos que promoveram o trote racista em dois ou três anos estarão prestando concurso para juízes, promotores, delegados ou mesmo exercendo a advocacia em seus escritórios.
Sindicância
A reitoria da UFGM anunciou a abertura de sindicância para identificar os responsáveis, que podem ser punidos com penas que vão da advertência verbal a expulsão.
“Nós fomos surpreendidos pela publicação dessas fotos. Elas representam um ato de violência que não faz parte da vida acadêmica”, disse a vice-reitora da UFMG, Rocksane Norton. Ela ressaltou que a universidade não reconhece e proíbe os trotes e vem adotando campanhas de conscientização dos estudantes.
O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) da Faculdade de Direito convocou uma reunião extraordinária para esta terça-feira (19/03) da diretoria, o Conselho de Representação da Turma, o Conselho de Representação Discente, a Associação Atlética e Acadêmica, o Centro Acadêmico de Ciências do Estado e o Diretório Central dos Estudantes para uma tomada de posição.
A vice-reitora também disse que a UFMG e o DCE (Diretório Central dos Estudantes) também promovem eventos de recepção oficiais para desestimular os trotes nos diretórios acadêmicos.
Da Redacao